Em 1992 sai o debutante Generation Terrorists e músicas como You Love Us ou Motorcycle Emptyness começam a chegar às rádios. Por trás do inegável tacto em construir grandes canções rock escondem-se letras altamente subversivas. O álbum é um panfleto de retórica esquerdista e um autêntico regicídio na monarquia do Reino Unido – “repeat after me, fuck Queen and country/ repeat after me, death sentence heritage”. Faixa atrás de faixa disparavam contra o establishment, fosse ele o capitalismo, a apatia das massas, as marcas, a publicidade, a religião ou a coroa Britânica. A crítica gostou da ousadia e recebe-o bem. O hype estava criado pressionando os MSP a voltarem atrás na sua promessa de acabarem com a banda a seguir ao primeiro álbum ser lançado.
Seguiu-se Gold Against the Soul, seguimento previsível do primeiro disco, menos inspirado e mais acomodado que o antecessor, mesmo assim mostrando aqui e ali um novo lado dos MSP, mais sinfónico, que seria trabalhado em anos futuros. O que dava que falar, contudo, não era o novo álbum: as fissuras existentes na banda tornaram-se evidentes demais - Richey James estava cada vez mais reduzido ao que sobrava de si próprio, Nicky Wire fazia questão de soltar tiradas inconvenientes dia sim dia não e a banda tocou com apenas três elementos durante grande parte da sua tour (a falta de comparência vinha, claro, da parte de Richey James).
Em 1994 chegou Holy Bible, ainda hoje considerado por muitos como o melhor álbum gravado pelos MSP. Holy Bible carregava todo o desencanto que Generation Terrorists tinha mas extremou-o lírica e musicalmente. Goste-se ou não, foi o álbum bomba dos MSP, as guitarras estavam mais ríspidas que nunca e as letras totalitariamente radicalizadas. É, provavelmente, o disco mais furioso e desacreditado da década de 90. Richey explicou tudo o que sentia por lá: versos como “childhood pictures redeem, clean and so serene/ see myself without ruining lines”, “these sunless afternoons I can’t find myself” ou “he's a boy, you want a girl, so tear off his cock, tie his hair in bunches, fuck him, call him Rita if you want” anunciavam o que estava para vir. A promoção do álbum nos Estados Unidos estava próxima mas antes disso Richey James volta a ser notícia pela última vez. A 1 de Fevereiro de 1995 desaparece, tendo o carro sido encontrado junto a uma ponte perto de Bristol, famosa pelos suicídios que recebe. Pouco tempo depois Richey foi considerado morto, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado. A banda ficou devastada com a notícia e temeu-se o seu fim. Para a grande maioria dos fãs, e possivelmente também para os três restantes membros, os Manics deixariam de ter sentido sem Richey que era visto como a alma e o cérebro do grupo – mesmo tendo em conta a sua limitada capacidade musical, a verdade é que era ele que encabeçava toda a raiva política e social conhecida nos MSP. Sean Moore, o pouco mediático baterista da banda, definiu-o da melhor forma, intitulando-o como o seu ministro da propaganda.
Mas James Dean Bradfield, que de todos os elementos sempre foi o mais músico, assegurou a continuidade do, agora, trio. Poucos meses depois voltaram a reunir-se para compor novos temas. Agarraram em antigas letras de Richey James, juntaram novas de Nicky Wire e James Dean Bradfield encarregou-se de construir canções rock de tom épico. O resultado foi Everything Must Go (não é preciso mencionar a quem é que o título era dirigido), o álbum que pôs os Manic Street Preachers como estrelas internacionais. Além do aplauso da crítica e das vendas astronómicas que teve, Everything Must Go coleccionou prémios pelo mundo fora. Ainda assim, não se livraram de ser acusados de vendidos pelos fãs de primeira hora, ainda revoltados pela perda do seu elemento mais combativo.
E foi a partir deste momento, pós Richey James, que os MSP deram inicio a uma nova fase. É verdade que a veia política está lá e sempre estará, mas estes Manics, os de hoje, estão já muito longe da fúria Marxista de 90. De Everything Must Go (1996) até Send Away The Tigers (2007), os três Galeses envelheceram, amainaram, serenaram e começaram a dar mais importância ao detalhe melódico que à luta política pura e dura. This Is My Truth Tell Me Yours (1998) é paradigmático nesse aspecto: canções calmas, melodiosas e introspectivas, quase caseiras. Mesmo Know Your Enemy (2001), que dos últimos discos é visto como o mais activista, alinha a sua forte posição política com um discurso bem mais leve, ou pelo menos não tão chocante, que as primeiras obras da banda. Ainda houve tempo para prestar uma interessante homenagem aos 80’s dos New Order quando lançaram Lifeblood, em 2004. E agora temos este Send Away The Tigers, acabado de sair, e com um single fresquíssimo de nome Your Love Alone Is Not Enough a dizer-nos que eles estão para durar.
Que durem.
Sean Moore disse que de três em três discos os MSP fazem um álbum de ruptura. Foi assim com Holy Bible, foi assim com Know Your Enemy e, se as contas não me falham, será assim com o próximo.
Que durem até lá, pelo menos.
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