March 28, 2008

Mark Ronson - Version

“Version” é, adivinharam, um disco de versões, algumas boas, melhores até que os próprios originais (“Valerie” dos The Zuttons, cresce na boca de Amy Winehouse), outras talvez um pouco forçadas demais (“Stop me” dos Smiths, é demasiado entediante, coisa que os Smiths nunca foram). Acaba por ficar como uma brincadeira curiosa de alguém que joga bem no pitch sonoro.

Vampire Weekend - Vampire weekend

Pensem nuns Animal Colective menos tribais, deslizem-nos da Primavera para o Verão, encharquem-nos em sumo mesclado de frutos tropicais, juntem açúcar em doses industriais e cá estão eles, os novos sonhadores da pop e já uma das revelações do ano, Vampire Weekend. O debutante álbum da banda Nova-Iorquina é uma pincelada de percussões Africanas (“Mansard Roof”), guitarras indie (“A-Punk” ou a brilhante “Cape Cod Kwassa Kwassa”), e pop clássica (“M79”), que ilumina dias de chuva como só um arco-íris consegue. Mais importante que tudo: os Vampire Weekend não temem o absurdo, que é como quem diz, não temem a pop, e vão exactamente onde querem. Em cheio.

(*) - Texto publicado na Revista Blitz (Capa de Abril de 2008)

Atlas Sound - Let the blind lead those who can see but cannot feel

Quanto mais ouço “Let the Blind...” menos percebo o que tem Bradford Cox – criador do projecto Atlas Sound – de tão especial que justifique todos os elogios recebidos recentemente. O disco é um mero exercício de investigação, que é bem mais exploratório do que experimental. Avançando pela electrónica de guitarras pós-rock, as ideias vão-nos passando pelos ouvidos, sussurrantes e tímidas, faixa atrás de faixa, e só tomam forma por duas ou três vezes em Cold as Ice, Scraping Past e Ativan – esta última, valha a verdade, muito boa. Cox faz um research sonoro vasto, o problema é que isso não basta – é preciso resultados, e este “Let the Blind...” escava muito mas encontra pouco.

(*) - Texto publicado na Revista Blitz (Capa de Abril de 2008)

March 27, 2008

Adele -19

O single “Chasing Pavements”, muito sinceramente, não me mobilizou. Felizmente há “Daydreams”, “My same” ou “Melt my heart to stone”, a mostrar que nem tudo é enfadonho em “19”. A boa notícia é que Adele resiste à frequente tentação de ornamentar demasiado as canções com a sua voz, que é boa embora algo comum. Falta-lhe só pôr a vida nas palavras, como Amy Winehouse faz, para ser mais do que uma agradável cantora soul.

March 24, 2008

Goldfrapp - Seventh tree

Em 2000 surpreenderam com “Felt mountain”, aquele disco invulgar que cheirava a uns Portishead campestres. Em 2003 surpreenderam com “Black Cherry”, álbum que contrariava o anterior por retirar os Goldfrapp do bucolismo e os colocar bem no meio da cidade. Em 2006 surpreenderam com “Supernature” por se apresentarem, sem qualquer pudor, como uma banda pop. “Seventh tree”, de 2008, não surpreende em nada mas desde quando é que os Goldfrapp têm de ser Houdini? Um regresso a “Felt mountain”, de certa forma aligeirado, mas cheio de boas canções.

Michael Jackson - Thriller

Pouco mais há a dizer de “Thriller”. Já sabemos que vendeu como água no deserto, que tem tudo o que há de bom e evita tudo o que há de mau em Michael Jackson, que “Wanna be startin’ somethin’” ou “Billie Jean” são perfeitas, que ainda hoje se ouve como se de uma moderna produção Timbaland se tratasse. Há ainda uns extras no final que renovam as versões originais – apenas uma desculpa para revisitarmos um disco que, na sua estrutura original, é soberbo. Ouvindo “Thriller” percebemos por que razão, durante tanto tempo, Michael Jackson foi o rei da pop.

March 18, 2008

Matt Costa - Unfamiliar faces

Tom Dumont, guitarrista dos No Doubt, foi o primeiro a pegar nele. Seguiu-se Jack Johnson que o protegeu dentro da sua própria editora. Com uma mistura de mérito e sorte, Matt Costa viu-se rapidamente a gravar dois EPs em pouco tempo, e logo depois o consequente disco que os compilava. “Songs we sing”, o tal álbum, era uma interessante colecção de canções que conseguia estar bem acima daquilo que o patrão Jack tinha feito em “In between dreams”, com referências a Stephen Malkmus, Beatles e Beach Boys. De costas quentes, gravou este “Unfamiliar faces” que agora nos chega. São poucos os momentos que nos agarram e, os que o fazem, são ideias de outros na cabeça de Matt Costa – “Cigarette eyes”, como melhor exemplo disso, é Blur descarado (lembram-se de “Coffee and TV”?). Eu e todos os que tiveram “Songs we sing” nas mãos esperávamos mais que isto.

March 16, 2008

The Mars Volta - The bedlam in Goliath

“Já sabemos que tocas bem, homem.” – eis o que apetece dizer a Omar Rodriguez-Lopez, guitarrista virtuoso dos The Mars Volta (uma das partes dos antigos At the Drive-In). É pena, mas ao final de quatro álbuns já se percebeu que é isto que Omar e Zavala querem fazer: rock psicadélico, para lá do progressivo, de solos intermináveis e, na sua maior parte, muito pouco acessíveis. Se, por um momento da sua carreira, conseguissem ceder um pouco a padrões mais convencionais, talvez fizessem uma obra próxima daquela que foi “Relationship of Command”, o fabuloso último disco dos At the Drive-In. Assim como estão, limitam-se a ser tecnicamente muito bons, o que já não é mau, mas não podemos ficar indiferentes a este esbanjar de talento.

March 07, 2008

Jimmy Eat World - Chase this Light

Recuando uma década, lembramo-nos que os Jimmy Eat World tinham origem punk. Hoje, ouvindo "Chase This Light", só à lupa e muito a martelo é que conseguimos descortinar algum traço desse tempo. Desde "Clarity" e, sobretudo, Bleed American (título que acabou por ser removido por atentar contra a moral americana pós 11 de Setembro) que a banda se atira descaradamente ao emo, e assim se tem mantido até agora. O novo disco volta a carregar na power-pop: “Big Casino”, “Feeling Lucky” e “Let it Happen” são dignas de um qualquer filme teen, passado num qualquer liceu americano, protagonizado por um qualquer par de apaixonados. Nada mau, mas ficamos com a sensação que Bleed American fazia o mesmo - em melhor. (*)

(*) - Texto publicado na Revista Blitz (Capa de Março de 2008)

March 04, 2008

Marah - Angels of destruction!

Vêm de Filadélfia e, por muito que o eclectismo disfarce, são americanos até aos ossos. Andam nisto há mais de dez anos e até já tiveram direito à sua pequena obra-prima de nome “If you didn’t Laugh you’d Cry”. O novo disco, “Angels of Destruction!”, acrescenta dois novos temas à lápide Marah: “Blue but Cool” balada de piano colorido, quase country, salpicada com guitarra e vozes soul; e “Santos de Madera” que pede um pé de dança desgarrada. A consistência é imagem de marca dos Marah e Angels of Destruction! não compromete nada nesse sentido, mas falta-lhe um pouco mais de sarcasmo e um pouco menos de optimismo para chegar às obras maiores dos Hold Steady. (*)

(*) - Texto publicado na Revista Blitz (Capa de Março de 2008)

The Helio Sequence - Keep your eyes ahead

Este é um disco de recuperação para o duo The Helio Sequence. Depois de Brandon Summers ter levado a sua voz para lá do seu próprio limite em “Love and distance”, excesso que o levou a um longo processo de reabilitação vocal, “Keep your eyes ahead” parece surgir como um disco de vontade. Rock electrónico, tradicional e em formato canção, de traço simples mas vincado, que funciona como um bom welcome back da banda.

March 03, 2008

K.D. Lang - Watershed

K.D. Lang mostra, mais uma vez, como puxar a country para os anos de hoje, não através da actualização da produção musical, mas sim pelo classicismo requintado com que reveste as suas canções.
Nada que não tenha sido já conseguido, por ela e por outros, mas só o facto de Watershed ser outro bom exemplo de excelência revela o quanto a country não tem, necessariamente, de ser uma coisa de rednecks.

The Mountain Goats - Heretic pride

John Darnielle é, de forma tão óbvia, o faz-tudo dos Mountain Goats que bem podiam mudar o nome da banda para um substantivo singular. Caseiro, como é costume, Darnielle dá-nos em “Heretic pride” treze mini-estórias normalmente cantadas à viola, da forma mais sincera possível.
São quase todas canções de amor, ou desespero, ou ambas: “Stand with my arms at my sides as you open up the door/ I’m out of my element/ I can’t breathe” – é apenas um exemplo em vários possíveis da poesia maior de Darnielle. E quem diz “every moment leads toward it’s own sad end” explica-se como muito poucos o fizeram dentro e fora da música.