December 22, 2006

Colheita 2006



The Pipettes – We are the Pipettes

São tão pop que bem podiam mudar o nome para The Popettes. Levem-no para um carocha descapotável numa noite de verão e tentem disfarçar o sorriso.



The Arctic Monkeys – Whatever people say I am, that’s what I’m not

A critica Inglesa gosta muito de gritar ao mundo o brilhantismo das suas bandas rock. Raras vezes tem razão. A excepção à regra este ano chegou de quatro putos de Sheffield (um deles, entretanto, já abandonou a banda). Rock rápido e eficaz, sem tempo para descansar. Ah, e tem I bet you look good on the dancefloor, que, só por si, vale mais que o último álbum inteiro dos Oasis.



Gaiteiros de Lisboa – Sátiro

Perfeita junção de tradicionalismo e experimentação, conjugada com uma criatividade única no uso da língua portuguesa.



Anja Garbarek – Briefly shaking

Injustamente esquecida, Garbarek saltou do minimalismo para a quase exuberância pop. Excelente álbum a recompensar o tempo de espera que houve desde Smiling and Waving (2001).



Tom Waits – Brawlers, bawlers and bastards

É certo que não funciona como um álbum de estúdio actual mas, como sempre, a intemporalidade das músicas de Waits conquistam-nos de imediato. Neste caso, Waits até nos presenteia com três discos distintos: os blues de Brawlers, as baladas de bar de alterne em Bawlers e o experimentalismo pós-Swordfishtrombones de Bastards.

December 21, 2006

18 boas razões



... para NÃO comprar Best Of's (ou compilações no geral):



1 - As canções que constam da compilação já foram todas editadas antes. Ou todas excepto uma...
2 - Num Best Of, as canções são melhores do que o quê?
3 - São melhores segundo quem?
4 - Normalmente estão fora da ordem cronológica, perdendo-se assim a óptica evolutiva da banda.
5 - Normalmente só estão incluídos singles. Quer dizer que estes são sempre as melhores músicas dos álbuns donde são retirados? Ou só as mais comerciais?
6 - Se são só singles, qual a necessidade de terem (ainda) mais exposição e tempo de antena?
7 - Se são só singles, já são todas conhecidas. Não será a tendência natural "Esta já conheço, next", "Next", "Next"... "O quê, já acabou?"?
8 - Normalmente as canções mais giras nunca estão em nenhuma compilação.
9 - Supostamente são para os fãs "die-hard". Não é suposto esses fãs terem todos os álbuns da banda?
10 - Raras são as bandas / artistas que têm só um Best Of, o que nos pode fazer divagar sobre a dicotomia (re)visão histórica versus lucro.
10 - Se é o melhor que a banda fez, qual a motivação que fica para descobrir o resto da obra, sabendo de antemão que (supostamente) não há melhor que aquilo?
11 - Custam sempre mais que 20 euros. (Praticamente) Nenhum álbum de originais custa tanto.
12 - Normalmente o artwork presente no booklet ou na capa é nulo. Tal como a presença das letras.
13 - É habitualmente um sinal de decadência. Raros são os casos de Best Of's no auge de uma banda.
14 - Não são álbuns, na medida em que não têm uma visão artística.
15 - O pior álbum de originais de uma banda consegue ser melhor que o seu Best Of.
16 - Saem no Natal. É sempre de desconfiar de alguma coisa que saia regra geral no Natal.
17 - Nada contra os U2 (óbvia inspiração para este post). Mas há mesmo necessidade de / razões para compilações de 4 em 4 anos?
18 - Como diria John Cleese em Life Of Brian, "What's the point?!"?

December 12, 2006

Não foi preciso esperar até à idade adulta


O buzz à volta do segundo álbum dos Junior Boys já vinha sendo grande desde há algum tempo antes do seu lançamento. Os elogios abundavam por onde quer que se fosse procurar, e após várias e extensas audições de So This Is Goodbye pode-se concluir que não eram nem são desmesurados.

Não conhecia (tal como continuo sem conhecer) o trabalho prévio deste duo canadiano, Last Exit, logo este foi um álbum a escutar e avaliar sem pré-concepções ou expectativas pré-definidas que pudessem vir a ser defraudadas após a audição dos seus quase 50 minutos de duração espalhados ao longo de 10 faixas.

Num registo electrónico pautado pelo equilíbrio das batidas, que alternam entre uma mera e tímida presença ao longo de toda uma música e uma importância mais visível na construção da própria melodia (onde se tornam inclusivamente em algo mais próximo do "batimento cardiaco" da música, na medida em que é delas que esta depende para funcionar), e uma calma conjugação de uma larga e variada panóplia de sons, nem todos eles de origem electrónica, tudo isto pontuado com a fragilidade segura (uma vez que é apenas aparente) das vozes de Jeremy Greenspan e Matt Didemus, os Junior Boys conseguem uma das grandes supresas deste ano, premiada com momentos sublimes como "Count Souvenirs", "In the Morning" ou "FM".

Um álbum que merece uma maior atenção e exposição do que aquela que lhe foi reservada até agora, e que tem o mérito de conseguir fazer muito com pouco e apresentar uma complexidade considerável nas construções musicais a partir de uma simplicidade de métodos.

November 13, 2006

Assim vale a pena gritar


(Mais) Uma banda de elevada qualidade proveniente da Suécia, embora estes Shout Out Louds consigam ter já uma visibilidade considerável nos meandros mais atentos da pop alternativa...

A faixa de abertura "The Comeback", sendo um bom single de apresentação para o álbum, é enganadora no seu ambiente: mais sombrio, ainda que não deixe a luminosidade totalmente de lado, e com guitarras mais proeminentes do que se escuta no resto deste Howl Howl Gaff Gaff.

Os Shout Out Louds denotam uma particular heterogeneidade de sons, especialmente incomum em álbuns de estreia (ainda que esta edição internacional do álbum seja, segundo os próprios, "A collection of songs from all our Scandinavian releases. Everything from plastic to vinyl."): desde a mais pesada e supracitada "The Comeback", passando por faixas como "A Track and a Train" ou "Go Sadness", mais próximas do estilo Ascend to the Stars dos seus conterrâneos Last Days Of April, até à construcção pop a fazer lembrar o melhor de Badly Drawn Boy de "Please Please Please" ou à corrida desenfreada de "Hurry Up Let's Go", tudo acaba por colar bem no conjunto e fazer sentido no final.

(Mais) Um bom álbum (e logo de estreia) num ano de 2006* que se tem revelado profícuo em termos de boa música para os ouvidos deste blog.

*Nota: a edição escandinava do disco data de Outubro de 2003 (!), tendo tido direito a edição internacional europeia em Setembro de 2005. Incompreensível como só agora está presente nos escaparates nacionais...

November 08, 2006

E com três menininhas apenas se escreve a palavra POP

A palavra pop é hoje usada para os mais amplos conceitos. São dezenas as fronteiras que rompe e os territórios que abraça dentro da música actual (e não só): rock-pop, indie-pop, pop electrónico, pop sinfónico, teen-pop, punk-pop… e podíamos continuar por mais umas linhas de texto. É, contudo, muito raro encontrar algo que, sem grandes explicações e apenas com música, nos leve à essência da palavra, a Pop de P maiúsculo. E é aqui que entram as Pipettes. Três meninas Inglesas resolveram mostrar-nos o que ela é. Disse mostrar porque é disso mesmo que se trata, uma exposição, a Pop não se explica, ela existe e só pede que alguém a alcance. E como, então, o fizeram? Fizeram-no voltando uns anos atrás, aos vestidos polka-dot, aos óculos angulares e penteados dos 60s. Fizeram-no regressando, portanto, à sua origem, ao seu despertar. Fizeram-no com 15 canções de puro hedonismo. Fizeram-no com letras superficiais, claro está, como qualquer boa Pop que se preze: “dance with me baby boy tonight, dance with me and we’ll be alright” ou “We are the Pipettes and we've got no regrets, if you haven't noticed yet we're the prettiest girls you've ever met”. Fizeram-no lançando a canção Pop do ano, Pull Shapes, sem mais discussão possível. Fizeram-no da forma que se ouve, sem perfeições, nem ambições, nem intenções.

O verdadeiro significado está no álbum “We are the Pipettes”, e não há dicionário, crítico, ou historiador musical que nos consiga fazer ver a Pop como aqui.

November 03, 2006

Os bons velhos tempos de hoje em dia


Não há volta a dar-lhe. Os Camera Obscura são uma das sensações pop do momento, em boa parte graças à genial resposta a uma (excelente) canção-pergunta de Lloyd Cole and The Commotions ("Are You Ready to be Heartbroken?"): não podia ser mais lógico que "Lloyd, I'm Ready to be Heartbroken", genialidade pop de 60 adaptada, ainda que apenas levemente, aos dias de hoje.

"Come Back Margaret" traz-nos uma suplicante Tracyanne Campbell a um ritmo que só apetece abanar-nos, assim mesmo, suavemente de um lado para o outro. "Dory Previn" faz-nos pensar duas vezes a cada inspiração / expiração, não vá a nossa respiração estragar o sublime momento que é essa canção. O tema-título "Let's Get Out Of This Country" oferece-nos a perfeição musical que só a pop nos pode oferecer, enquanto a referida Campbell (que não Isobel...) nos presenteia com pérolas como "Let's get out of this country / I'll admit I'm bored with me / (...) We'll pick up berries and recline / Let's hit the road old friend of mine" - não vos apetece ir imediatamente?

"If Looks Could Kill" não desfazia se tivesse sido composta por Brian Wilson quando andava bem acompanhado, tal como "I Need All the Friends I Can Get", outro momento maior do terceiro de originais destes escoceses com o seu coro infantil a acompanhar o refrão.

Não há como negar. Grande parte do melhor novo-velho pop deste ano está aqui.

October 26, 2006

I just met a girl named Maria...

Não é costume nem fazia parte do que imaginava vir a escrever por aqui (contava limitar-me a álbuns), mas fui ontem ver Marie Antoinette, o novo filme de Sofia Coppola, e senti a "necessidade" de deixar por escrito a minha visão sobre o filme.

O trailer aguçava o apetite tanto em termos visuais como em termos auditivos (a tal coisa do sound + vision), apesar de já há algum tempo me ter deixado de entusiasmar com trailers, por via de diversas desilusões que alguns filmes me causavam após as expectativas criadas na sua promoção.

Em Marie Antoinette, Sofia Coppola opta mais uma vez por deixar a história desenrolar-se por si, caracterizando as personagens mais como espectadores e peões desta do que jogadores capazes de a definir e dirigir. Aqui, o jovem casal constituído por Marie Antoinette e Louis Auguste parece nunca conseguir controlar a sua vida ou ter uma palavra sobre a história que (sabemos nós) lhes está reservada, sendo a sua vivência sucessivamente sujeita às vontades das famílias reais, às formalidades a que os seus lugares na sociedade obrigam, à manutenção de aparências a que Versalhes estava habituada.

Nota-se igualmente uma preocupação de Sofia Coppola com a excelência da fotografia que, não sendo novidade, atinge um nível superior ao de outros filmes - influência talvez da permissão para filmar Versalhes ao invés de um qualquer cenário a fazer de Versalhes. De destacar também a sua conjugação quasi-perfeita com uma (excelente) banda sonora que fornece uma ligação entre esse tempo e os nossos dias e concede ao filme uma aura de visão diferente, numa obra que se quer (ainda que apenas levemente) biográfica, mesmo que não revisionista. E Kirsten Dunst, bem... Kirsten Dunst é Kirsten Dunst. Basta mencionar a cena do leque, que se arrisca a ficar no imaginário do Cinema - assim mesmo, com letra grande - durante muitos e bons anos.

Não é uma obra-prima, mas é um filme muitíssimo bem-vindo numa época de pouca preocupação estética, visual e sobretudo sonora na maior das "grandes estreias" em salas portuguesas.

October 17, 2006

Um segredo bem escondido - III

Continuando um processo de progressiva acalmia do seu estilo, os Last Days Of April entram depois de Angel Youth numa fase bastante colada ao shoegazing, abandonando de vez a forma como as guitarras eram encaradas no seu "emo-estado-inicial".

Ascend to the Stars é, até à data, o álbum perfeito dos Last Days Of April. Aproveitando o que de melhor tinham feito no álbum anterior, conseguem ao quarto álbum (descontando dois EPs pelo meio, o segundo omitido nesta compilação por mero lapso - de seu nome The Wedding, e edição entre o segundo e o terceiro álbum) a sua obra-prima, construída à volta de uma maior fragilidade da voz de Karl Larsson e de arranjos mais calmos e melodiosos.

Aqui encontramos a perfeita conjugação entre juventude e maturidade, esperança e infelicidade, sol e frio - afinal dicotomias presentes até no nome da banda, basta imaginar o que representam os últimos dias de Abril para um sueco...

No entanto, a banda provou com o álbum seguinte estar num beco sem saída em termos de criatividade. De facto, If You Lose It limita-se a repetir a fórmula apresentada em Ascend to the Stars, e, como qualquer repetição e tentativa de imitação, fica aquém do seu original, isto apesar de ter os seus momentos (ou não tivessem já os Last Days Of April provado serem músicos competentes e bons escritores de canções).

A ouvir com atenção faixas como "All Will Break" (Ascend to the Stars), "Angel Youth" (Ascend to the Stars), "Playerin" (Ascend to the Stars), "Piano" (Ascend to the Stars), "It's On Everything" (If You Lose It).

October 10, 2006

O lado positivo da cientologia


Não há aqui nenhum erro, não se deixem enganar pelos pequenos gatos à frente das suas caras na capa do álbum With Love and Squalor. Estes três rapazes são rock, e bom rock...

37 minutos de puro desgaste de energia, desde a primeira (à la Pulp Fiction, "Nobody Moves, Nobody Gets Hurt", outra excelente aposta Radar) até à última música.

Pelo meio dança-se bastante, sua-se muito e salta-se ainda mais, há um refrão de uma música ("Inaction") ao estilo parada-e-resposta que só mesmo ouvindo, e passa-se por músicas imperdíveis: a revoltada "Cash Cow", a excelente (e talvez premonitória) "It's a Hit", o single de apresentação costumeiro-MTV2 ("The Great Escape"), e a sentida mas não menos forte "Lousy Reputation".

We Are Scientists, como que a defender a honra da ciência (numa altura em que Tom Cruise anda perdido devido a outra palavra derivada da mesma raíz). E nós só temos que aplaudir e pedir-lhes que continuem, em nome do progresso (quem sabe científico, mas não só).

October 06, 2006

Bonnie levou o “letting go” à letra


Bonnie ‘Prince’ Billy está a cair. Os tempos das obras primas já lá vão (“Ease down the road” e “I see a darkness”), os dos discos bons também (“Superwolf” e “Master and everyone”) e parece ter chegado a altura dos álbuns porreirinhos. Pois, não dá para acreditar mas o génio da folk americana fez um pãozinho sem sal. Não há uma música em “The letting go” que mereça entrada nas mais belas do compositor. Não há um momento que nos suspenda a respiração por segundos. Não há, resumindo, nada daquilo que havia antes.
Há, isso sim, um conjunto de canções, umas assim-assim, outras satisfatórias, que servem simplesmente para nos dizerem que Bonnie ainda está vivo. Mas isso já nós sabíamos pelo álbum ao vivo que lançou - se era apenas para nos dizer que ainda compunha mais valia esperar mais um bocadinho.

Vá Bonnie, estás perdoado. Vai lá para casa e leva o tempo que quiseres a fazer o próximo. Eu espero o que for preciso, não me brindes é com porreirices destas outra vez.

October 04, 2006

O álbum que perde pontos por envelhecer

É curioso ver que a Blitz integrou o álbum sem título dos Sigur Ros - ou, se preferirem, o álbum dos parêntesis ( ) - na lista dos piores de sempre. Digo curioso porque na data de saída do disco, a classificação que lhe deram no então jornal Blitz foi de 8 em 10.

Modas...

October 03, 2006

Entrar a matar



Este era um álbum que já desesperava que chegasse às minhas mãos. Já há bastante tempo que ouvia - e gostava do que ouvia - temas como "Back Again", "Ivy Parker", o (excelente) single de avanço "Civil Sin", e o inevitável "Suzie", aposta constante da Radar - e que aposta...


A expectativa era alta, e o álbum não desiludiu. Aliás, pulverizou as expectativas. Poucas vezes um álbum de estreia pareceu tão confiante e certo de si, raríssimas vezes com a qualidade deste Civilian, e menos ainda justificando o estatuto de "brit-sensation-culto" que os britânicos tanto gostam de emprestar a tudo o que seja insular e novo.


Este é um daqueles álbuns em que pareceria sempre criminoso deixar alguma faixa sem referência. Civilian abre com a potente "Back Again", segue com a nervosa "On And On" antes de chegar ao duplo momento do álbum, com a fabulosa "karate-pop-punch" (segundo os próprios) "Suzie" a preceder "Six Minutes", para mim a revelação das músicas que não conhecia do álbum, com um verso / linha de sintetizador do mais instantâneo que há. De seguida vem a segura "On My Own", a supracitada "Ivy Parker" (como que a acalmar a energia acumulada até aí), até chegarmos ao abanão que é "Civil Sin" com o seu ritmo "out of control". "Killer" aproveita a força do single para construir um refrão mais que potente (quer a nível musical como semântico - "Killer kill us all"...), enquanto "Friday-Friday" parece ser o esgotar da força das guitarras dos Boy Kill Boy, num registo vocal bastante próximo ao dos seus compatriotas Futureheads. "Showdown" mantém um ritmo forte mas dançável, sendo o registo sonoro das guitarras + sintetizador um pouco mais "popesco" e apelativo ao abanar das ancas, tentando abrandar o ritmo do álbum para o final calmamente perfeito de "Shoot Me Down". Registo igualmente para uma fabulosamente tranquila música escondida, a reforçar a "capacidade eclética" do som dos Boy Kill Boy.


Um álbum a todos os níveis fantástico. Um dos mais fortes candidatos a álbum maior de 2006. E tudo isto em apenas 45 minutos e 17 segundos.

October 01, 2006

Desaparecido em combate

Uma pausa para falar de um disco de que gosto muito e do qual pouco ou nada sei. É de uns tais Anywhen, Suecos, que andam calados desde 2001. Pontos nos is: este The Opiates é uma obra-prima – aquela que Nick Cave tem procurado e que quase conseguiu com No More Shall We Part.
Melhor início não poderá haver com o tom épico de The Siren Songs a dar o mote para o que aí vem. Grande orquestração a suportar uma voz grogue, grave e sonâmbula. Excelente primeiro refrão, grandioso segundo refrão. A segunda canção, Dinah and the Beautiful Blue, embala-nos numa beleza rara. O disco mantém um nível altíssimo até às três últimas faixas, onde entra num outro (e superior) patamar. Toy é um gozo absoluto, mas um gozo contido, clássico e melancólico. Betty Caine suspende-nos em qualquer sítio só nosso. Por fim, All that numbs you é a despedida merecida de um álbum sem mácula.

Já esperei tempo demais por um eventual novo álbum. Voltem depressa que a boa música agradece.

September 28, 2006

Sem medo da escuridão



O selo Secretly Canadian era um garante de qualidade. O single de avanço entretanto ouvido (obrigado...), "According To Plan", rapidamente se tornou numa presença repetidamente obrigatória ao chegar a casa - é a minha música do momento, simplesmente fabulosa a toda a linha.

Mas nem só da excelente atmosfera e cativante linha de baixo do single vive este Fear Is On Our Side, primeiro longa-duração dos texanos I Love You But I've Chosen Darkness - prémio para o melhor nome de banda alguma vez desencantado.

Influências notórias, tanto a nível musical como estético / visual, são as de bandas como a Joy Division ou os Interpol, entre outros. Fantástica também a não menos obscura (apesar do título) "Lights", a sequência "Today" / "We Choose Faces" (se os Sigur Rós de repente se virassem mais para a pop e para as guitarras), e a igualmente arrebatante "Last Ride Together".

Entusiasmante álbum de estreia da banda com nome mais entusiasmante dos últimos tempos.

September 21, 2006

Um segredo bem escondido - II

Com os dois albuns seguintes, os Last Days Of April entram numa fase e estilo de som um pouco distintos daqueles que tinham marcado o grupo no seu início de vida.

Rainmaker, o segundo álbum de originais, aparece apenas 1 ano após a estreia mas traz uns LDOA menos revoltados, ou seja, mais maduros - com essa maturidade a fazer-se notar na sua sonoridade. Mais pop, menos emo-punk, este acaba por ser um álbum no qual se vislumbram novos caminhos, aqueles que os LDOA acabariam por vir depois a trilhar.

Angel Youth é o "álbum-rampa-de-lançamento" para o que viria a ser o grande momento dos LDOA. Com o grupo a experimentar pela primeira vez diversos e diferentes arranjos nas suas músicas, este bom álbum antecipa e prepara o futuro dos LDOA.
Evoluindo para uma ainda maior acalmia do som da banda (apesar da temática "derrotista-boy-loses-girl" se manter), deixam-se aqui de parte pela primeira vez as guitarras (apenas nalgumas faixas...), e encontra-se "a" música do reportório dos LDOA: "Will the Violins Be Playing?" é tudo aquilo que os LDOA conseguem no seu maior esplendor.

Faixas-chave deste momento na vida dos LDOA: "All Those Kisses" (Rainmaker), "Aspirins and Alcohol" (Angel Youth), e "Will the Violins Be Playing?" (Angel Youth).

September 13, 2006

Um segredo bem escondido - I

Os Last Days Of April são protagonistas de uma evolução no mínimo invulgar no panorama musical europeu.

Provenientes de uma Suécia fértil em bandas acima da média (Shout Out Louds, Logh, mesmo os Millencolin de Pennybridge Pionneers) constantemente ignoradas pelo mainstream, os LDOA começaram por ter uma sonoridade punk-rock mais ligada à vertente emocional - o chamado emo -, território claramente demarcado no início de actividade com o primeiro álbum (homónimo) e o "7-inch" Henrik.

Aqui se apresentavam guitarras oscilando entre a sonoridade angular e riffs com volume bem puxado, baixo "pesadinho" a acompanhar o ritmo incerto (mas com pujança constante) da bateria, e a voz de Karl Larsson como a de um teenager desgastado pelas vicissitudes emocionais da vida nessa idade, oscilando entre o lamento derrotista (mas nunca abafado) - um pouco numa lógica boy loses girl - e o grito de revolta quando tudo corre mal e nada parece encaixar.

Faixas merecedoras de destaque nesta fase embrionária da vida dos LDOA: "Never Apart" (Henrik), "Untold" (Henrik), "Nothing's Found" (Last Days of April).

August 21, 2006

Neve de Verão


É difícil não gostar do último dos Snow Patrol, "Eyes Open". O disco flui. Bem sei que não vai ficar para a história e daqui a um ano ninguém se lembra dele, e daí? Por agora cumpre perfeitamente. Tem lá tudo: radio friendly (“You’re all I have”, “Hands open” ou “It’s beginning to get to me”), baladas (“Chasing cars”), colaborações (“Set the fire to the third bar” – e que colaboração esta, com Martha Wainwright) e pop alternativo (“Shut your eyes”).

"Finnal Straw", o álbum anterior, já indicava que boa coisa vinha a caminho. Confirmou-se.

August 10, 2006

Blitzinha

A Blitz está diferente. Quanto a mim até está melhor em muitos aspectos. Mas, ao que parece, a mudança de sexo mudou-lhe também a personalidade. Onde estão as criticas mal dizentes? Nos dois primeiros números, os únicos que saíram até ao momento, no meio de oitenta e tal álbuns analisados apenas dois são considerados maus (duas estrelinhas) e ainda não há nenhum infeliz penalizado com a estrelinha solitária. Será que nos dois últimos meses tivemos a sorte de só saírem discos acima da média? Ou a Blitz virou daquelas revistas generalistas que acham má educação dizer mal de algo?
É esperar pelo próximo número para tirar dúvidas.

Afinal a TV não anda assim tão mal


Achei que seria de mau tom começar a minha escrita neste blog a dizer mal de algo. Escolhi, então, uma das melhores coisas que veio parar às minhas mãos este ano. De tempos a tempos aparecem álbuns destes que nos perdem das referências habituais. A verdade é que estes TV on the Radio não estão ancorados a nada que me lembre repentinamente. Sei que têm um passado curto, mas muito aclamado e não é para menos. Apesar de singular, Return to Cookie Mountain é um disco fácil para bons ouvidos. É atmosférico mas não chato. Experimental mas não custoso. Complexo mas não intransitável. Essencialmente, faz-se de boas, óptimas canções.

August 09, 2006

Poucas revelações num buraco (quase) negro


Talvez o título seja um bocadinho forte demais, mas vindo de quem vem, e principalmente pelo background que têm em termos de álbuns (nomeadamente o fora-de-série Origin Of Symmetry e a sua excelente continuação em Absolution), este Black Holes and Revelations dos Muse deixa um ligeiro sabor a pouco. Pior que isso, deixa um sabor a "menos".

Num álbum em que tentam trabalhar mais a generalidade das suas composições, a maior parte das músicas aqui apresentadas acaba por, curiosamente, apresentar menos daquela "grandiosidade minimalista" que caracterizava o som dos Muse. Para além desta desilusão, temos ainda a tentativa (claramente falhada) de introdução de um "formato balada", recorrendo apenas a uma guitarra acústica e à voz de Matthew Bellamy.

Acabam por merecer destaque a pérola pop (com ritmo condizente) Starlight, e Map Of The Problematique, talvez aquela que mais se aproxima do que deveria ter sido a evolução (em crescendo de grandiosidade) dos Muse.

Ainda assim, se este fosse o primeiro álbum de uma nova banda estaria aqui uma grande revelação. Mesmo se fosse um álbum de continuação de outra banda seria um bom álbum. O problema é que é dos Muse - e esperava-se mais.

August 07, 2006

Melómano, segundo o dicionário

Devo ser das pessoas mais irritantes que há: pior do que um critico musical só mesmo um pseudo critico musical. Não sou jornalista, não sou músico, nem artista de qualquer espécie. Ainda assim arrisco aqui escrever o que a pop tem de bom e de mau. São apenas opiniões, pois são, e valem o que valem, que é quase nada. Lê quem quer.

Os Pop Dell’Arte mencionaram a pop que podia existir, e existe, na arte. Aqui fala-se da arte que há em fazer pop. Ou da falta dela.

August 04, 2006

Lançamento

Um blog que parte logo "para o ataque" sem um post inicial de apresentação não é comum. A razão para isso é que o primeiro post é apenas uma cópia de um que já tinha feito noutro blog. De qulaquer maneira, este pretende ser um blog sobre música, mais concretamente sobre a música que nos rodeia e com a qual sentimos que vale a pena perder tempo, bastante aliás.

Como forma de homenagem à música que admiramos escolhemos um nome referente à arte de fazer boa música pop. Sejam portanto bem-vindos ao Arte Del Pop. Boas críticas, boas escolhas e boas escutas.

August 03, 2006

Olh'ó CD fresquinho


The Futureheads - News And Tributes. Álbum bastante recomendável apesar de não ser propriamente o "som de Verão" que esta altura do ano pede.

Os The Futureheads surgem ao 2º álbum a tirar bom partido do que de melhor tinham apresentado no álbum de estreia: boas linhas de guitarra acompanhadas por um baixo "jingante", ritmos não-óbvios com várias quebras pelo meio, e vozes em coros trabalhados - estranhamente apelativo. Quem já conhecia pode notar uma evolução (e para melhor, ao contrário da maior parte das "evoluções" de bandas), quem não conhecia pode ficar agradavelmente surpreendido.

De destacar a faixa que cede o título ao álbum (no booklet é dedicada aos jogadores, equipa técnica e alguns fãs do Man. Utd. vitimados num desastre de avião em Muniche em Feveriro de 1958 - nota para Morrissey que tem também uma Munich Air Disaster 1958 pelos mesmos motivos), a música de abertura do álbum, Yes/No, que apresenta capacidades particulamente explosivas, e Fallout, talvez o maior exemplo da diversidade aqui atingida pelos The Futureheads. Referir ainda que o single de apresentação do álbum (com bastante "airplay" na Radar nos tempos recentes) é Skip to the End.

A explorar.