April 27, 2007

I(n)di(e)oma

Volto a afastar-me do propósito principal do que por aqui escrevemos. E, no entanto, nem tanto assim...

Explicando (título inclusive): passou durante esta semana, no festival de cinema independente IndieLisboa, a experiência cinematográfica dos Daft Punk, Electroma. Nele tomamos contacto com as duas formas robot dos Daft Punk, na sua viagem – ao mesmo tempo que trip – para se tornarem humanos.


Este filme acaba por ser uma prova de resistência para os espectadores: os robots mantêm-se naturalmente mudos durante todo o filme, a banda sonora que o acompanha não é da autoria dos Daft Punk nem contém aquilo que se esperaria de um filme deste duo, mas antes desde música clássica a Brian Eno, passando por Todd Rundgren e outros...

Muito se poderia analisar neste inclassificável objecto, desde as metáforas sobre a tentativa de humanização do que não o é até às atitudes dos dois “heróis-robot” após tudo o que passam, passando pelas reacções (no fundo tão humanas) que a comunidade robot tem perante o que lhe é diferente, e no entanto ficaria sempre muito por referir. Um filme híbrido, estranhamente cativante e merecedor de maior atenção e admiração. No fundo, um projecto à imagem dos seus mentores.

April 23, 2007

Confúcio e outras coisas mais

Apenas uma pequena relíquia para ilustrar o post...



Depois da mudança de sexo do/a Blitz, seguida do desaparecimento do excelente UM e dos recentes issues com o próprio nome que o suplemento do Público Y / Ípsilon teve, o que é que ficava a faltar? Que acontecesse alguma coisa ao 6ª, do DN. Faltava mas deixou de faltar há 2 semanas atrás, com o fim do suplemento graças à nova direcção do jornal.

May you live in interesting times, diz-nos a tradução inglesa de um famoso provérbio chinês. Mas estes não são tempos assim no que diz respeito à análise, crítica ou simples escrita musical (pelo menos no formato “tradicional”). Especialmente se os compararmos com a ebulição que se fazia sentir (ou vamos, que pelo menos eu sentia) com, por exemplo, o Blitz dos 90’s.

A corrida para o ir buscar quando saía, ler sobre o que é que se escrevia naquela semana, ver a troca de “galhardetes” em que os leitores normalmente transformavam o espaço que lhes estava reservado, tornando-se assim parte integrante da força viva que era o jornal... Em suma, interesting times – mesmo descontando qualquer distorção nostálgica que possa advir de escrever sobre memórias juvenis. Nada que se possa dizer quando se olha para o panorama do jornalismo musical actual, se assim lhe podemos chamar.

Mas descansemos e não nos preocupemos: ficamos a saber, através de um comunicado da nova direcção do DN, imposta pelo grupo que o detém, que ao fim do 6ª não equivale o fim dos seus conteúdos, já que estes irão ser “distribuídos pelo jornal nos restantes dias”... Yeah, right.

No entanto, se há algo de verdadeiramente bom que esta era de massificação e globalização da informação nos trouxe é a oportunidade que temos, todos os que o desejarem, de ler o que nos têm a dizer Pedro Gonçalves ou Jorge Manuel Lopes, só para dar um exemplo do que está disponível por essa blogosfera fora. É preciso saber procurar, e onde procurar, mas as oportunidades estão lá, e qualquer um (tanto de um “lado” como do outro, se olharmos para isto com uma visão economicista de oferta e procura) pode ter a bonança de a encontrar. Como, por exemplo, aconteceu com este fellow blogger...

May you live in interesting times. Mas cada vez mais cabe-nos a nós mesmos fazer por isso.

April 19, 2007

Capas há muitas - III

No último ano da década de 70's surgem dois álbuns cujo lançamento se deu inclusive no mesmo mês, e cujas capas conseguem retratar (cada uma à sua maneira) o esvaziamento e a desilusão do pós-punk e desses anos onde qualquer futuro parecia sombrio e desinteressante para a juventude de então. Ambos são álbuns de estreia de bandas que marcaram a história da música moderna, influenciando e desbravando caminhos que ora pareciam divergentes, ora paralelos e conseguem por vezes apresentar pontos de contacto.



Three Imaginary Boys, dos The Cure, apresenta-nos o início do génio pop, na altura com muitos laivos punk, de Robert Smith. Com uma sonoridade mais crua do que a que viriam a apresentar numa fase posterior da sua carreira (nomeadamente a partir de The Head On The Door), mas que surge como característica principal ao longo dos seus quatro primeiros álbuns, este primeiro longa-duração apresenta-nos uma capa onde o título aparece “traduzido” na imagem: os tais três rapazes imaginários (os membros da banda?) surgem como… um candeeiro, um frigorífico e um aspirador, sobressaindo de uma parede de fundo e um chão tristemente cor-de-rosa – parece uma contradição quando escrito, mas depois de vista a fotografia não o é tanto assim. A home life, e o porquê de ser tão desesperante para toda uma geração, sem necessitar de explicações.


Surgia em Machester, ao mesmo tempo, uma banda que teria uma importância no desenvolvimento da música moderna como a conhecemos inversamente proporcional ao seu tempo de vida. O primeiro álbum da Joy Division, Unknown Pleasures, é um álbum pesado, por vezes soturno e asfixiante, coroado pela sua bateria mecanizada, o baixo “melódico-depressivo” e a voz lúgubre de Ian Curtis. Uma obra assim dificilmente poderia ter uma capa que melhor se lhe adaptasse, e da autoria de alguém que não necessita de apresentações – o inigualável artista gráfico Peter Saville. Tanto a música da Joy Division como as capas dos seus trabalhos serviram de inspiração para muitos que se seguiram na febre pós-punk, quais figuras inspiradoras para a criação de outros. Hipnotizante.