January 23, 2007

Os três da vida airada



Musicalmente falando, dificilmente haverá hoje em dia país mais entusiasmante do que a Suécia. Os valores seguros aí existentes englobam nomes como The Knife, Shout Out Louds, Logh, The Sounds, The Concretes, Last Days Of April, Love Is All, The Radio Dept. (se tudo correr bem, alvo de uma referência futura por aqui), aos quais se juntam estes Peter Bjorn and John, trio composto por... John, Bjorn e Peter.

Writer’s Block, assim é o nome deste bom terceiro longa-duração (depois de um primeiro álbum homónimo e de um segundo, Falling Out, que desconheço) que consegue fazer transparecer ao longo dos seus 45 minutos uma consistência que tem tanto de notável como de incomum. A pop aqui criada é construída de forma quase antagónica à simplicidade com a qual costuma atingir o seu expoente máximo: para além dos tradicionais bateria, baixo e guitarra, nota-se a presença de piano, harmónica, bongos, órgão e sintetizador, até samples (vade retro!) de "shh’s", "whoo’s" e sons variados do dia a dia, acabando toda esta mescla por funcionar de forma superior.

Ligações a bandas conterrâneas são inevitáveis – tal como “Up Against the Wall” faz lembrar as fases mais recentes dos Last Days Of April, também “Let’s Call It Off” não desfaria se incluído no álbum de Shout Out Louds. No entanto, existem ao longo do álbum traços muito próprios que fazem por estabelecer desde logo uma identidade própria aos Peter Bjorn and John, e que são particularmente notórios nos dois momentos de excelência aqui presentes: em “Young Folks”, excelente single de avanço com o seu ritmo jingante, proveniente em partes iguais do assobio de Bjorn e de toda a parte de percussão, para além do “diálogo” entre Peter e a frágil perseverança da voz de Victoria Bergsman (antiga vocalista dos The Concretes); e em “The Chills”, onde o “shh shh shh” serve de ponto de partida para uma bateria tudo menos óbvia (mas que não impele menos ao leve abanar do corpo por isso) e à sua perfeita conjugação com uma potente linha de baixo e uma cativante melodia sintetizada.

Mais uma banda que conseguiu a minha atenção e que vale a pena seguir, depois de um disco que tem tanto de seguro como de prometedor, coisa rara nos dias que correm – ao que parece, excepto na Suécia.

January 18, 2007

Natal de Michigan

Continuo sem perceber onde é que Sufjan Stevens vai buscar tempo para tanta coisa. Assim que, há uns anos, li que este workaholic tinha como objectivo lançar um álbum por cada Estado americano soltei um sorriso desdenhoso: a ideia parecia-me entusiasmante, mas impraticável – além de tirar todo o tempo de vida ao rapaz. Ora, Sufjan depois de editar Greetings from Michigan (2003) – o seu primeiro Estado a ser visitado – já lançou Seven Swans, Illinoise (o segundo Estado), The Avalanche e agora uma caixa de cinco (!) cd’s desta vez abordando o tema do Natal. Isto enquanto procede a exaustivas pesquisas da história e alma de cada região americana.
Verdadeiramente impressionante em tudo isto é que Sufjan ainda não deu um passo em falso.
Este Songs for Christmas, embora não traga nenhuma novidade maior na carreira do compositor, continua a ser um conjunto de discos belíssimos, ideal para esta altura do ano, e embrulhado como se de um presente de natal se tratasse: com letras, acordes, autocolantes, poster e textos escritos pelo próprio. Inclui versões dos grandes clássicos natalícios e mais uns inéditos a juntar à já extensa obra do americano, tudo isto devidamente separado anualmente. A boa música nunca vem fora de tempo e neste caso, recorrendo ao cliché, Natal é todos os dias.

January 08, 2007

¡Avante camarada, avante!



Depois de ouvir bem este Give Me A Wall, o cancelamento (no próprio dia, e sem direito a explicações ou razões para tal) do concerto dos ¡Forward Russia! no Santiago Alquimista no passado mês de Setembro torna-se ainda mais lamentável...

O álbum de estreia deste quarteto britânico que alberga uma rapariga - eterno fétiche pessoal (allo allo Sonic Youth, Pixies, The Smashing Pumpkins, ...) - apresenta construções elaboradas ao colar diferentes ritmos e riffs de forma algo abrupta mas conseguida (allo allo dinâmica start-stop), que contribuem sobremaneira para um resultado final poderoso, tanto ao nível individual de cada faixa "per se" como ao nível aglutinador do álbum enquanto um todo.

A sonoridade do álbum em geral é bastante próxima da apresentada pelos genialmente criativos e igualmente extravagantes At The Drive-In na fase final da sua vida (culminada com um extraordinário último álbum, Relationship Of Command) - vide em particular "Seventeen" ou a faixa de abertura "Thirteen", onde se destacam os agudos atingidos pela voz de Tom Woodhead e a melodia conseguida pelo baixo num plano oposto ao da "conversa" de guitarras que se lhe sobrepõe - , embora alguns loops electrónicos pisquem aqui e ali o olho aos Muse, como em "Nineteen", e se note em "Eighteen" uma semelhança (que pouco ou nada terá de inocente) com os Bloc Party, nomeadamente ao nível da construção entre as guitarras, o ritmo irrequieto proveniente da bateria feminina e alguns elementos melódicos electrónicos, acompanhados por uma urgência (própria - e única - da juventude) presente na voz à la Kele Okereke.

Como resultado final fica um álbum equilibrado, com os décibéis puxados para cima mas usados com sabedoria q.b. , da estreia de uma banda a seguir (até para confirmar se a qualidade presenciada provém de meras colagens oportunas ou lhes é intrínseca), que tem ainda como particularidade o facto de todas as faixas terem como nome nada mais nada menos que... números.

January 03, 2007

And now for something (a little bit) different...

Para primeiro post do novo ano, um post ligeiramente diferente: análises mais curtas e abordando dois álbuns no mesmo post, álbuns esses que dificilmente entram de caras nalgum dos muitos sub-géneros da pop, mas que ainda assim fazem o suficiente por merecer o seu espaço aqui (e nas prateleiras do meu quarto).


Os Deftones dão, neste Saturday Night Wrist, o passo que se deveria ter seguido à obra-prima White Pony, depois da indefinição de rumo apresentada no álbum homónimo que se lhe seguiu e do (sofrível) álbum pelo meio de Team Sleep, o projecto paralelo do vocalista do grupo. Voltamos a ter boas construcções electrónicas a acompanhar as (pesadas) guitarras, num resultado final equilibrado e pontuado pela inconfundível voz de Chino Moreno. Quem for fã da habitual sonoridade dos Deftones não vai dispensar "Beware" ou "Kimdracula", enquanto quem tiver por hábito desconfiar destes norte-americanos vai ser surpreendido pela electrónica pura da colaboração com Annie Hardy em "Pink Cellphone" ou pelo excelente instrumental Nintendiano "U, U, D, D, L, R, L, R, A, B, Select, Start" - quem não percebeu incorre no crime de nunca ter tido um Game Boy ou uma NES...



Em Pratica(mente), Sam The Kid atinge a simbiose quasi-perfeita entre o seu génio criativo de beats e samples, já apresentada no ímpar Beats Vol. 1 - Amor, e a sua parte de rapper declamador de poesia por excelência ("enquanto a maioria faz versos", segundo o próprio), dotado de um flow aperfeiçoado e único, facilmente identificador da sua presença na música. A este equilíbrio entre sons e voz, Samuel Mira junta ainda uma capacidade de crítica que tem tanto de mordaz como certeira (ouça-se o single de avanço do álbum "Poetas de Karaoke"), convidados e colaborações de qualidade a rodos, incluindo registos de spoken word do seu pai na figura do (igualmente poeta) pseudónimo Viriato Ventura, e uma faceta de contador de histórias tanto verdadeiras, como em "Slides (Referências)", como ficcionais, caso do excelente "16/12/95". Conforme se ouve Rui Veloso brincar num sample no final de "Juventude (é mentalidade)", este disco apresenta-nos "Sam The Man: He's not the Kid, he's the Man!".