October 26, 2006

I just met a girl named Maria...

Não é costume nem fazia parte do que imaginava vir a escrever por aqui (contava limitar-me a álbuns), mas fui ontem ver Marie Antoinette, o novo filme de Sofia Coppola, e senti a "necessidade" de deixar por escrito a minha visão sobre o filme.

O trailer aguçava o apetite tanto em termos visuais como em termos auditivos (a tal coisa do sound + vision), apesar de já há algum tempo me ter deixado de entusiasmar com trailers, por via de diversas desilusões que alguns filmes me causavam após as expectativas criadas na sua promoção.

Em Marie Antoinette, Sofia Coppola opta mais uma vez por deixar a história desenrolar-se por si, caracterizando as personagens mais como espectadores e peões desta do que jogadores capazes de a definir e dirigir. Aqui, o jovem casal constituído por Marie Antoinette e Louis Auguste parece nunca conseguir controlar a sua vida ou ter uma palavra sobre a história que (sabemos nós) lhes está reservada, sendo a sua vivência sucessivamente sujeita às vontades das famílias reais, às formalidades a que os seus lugares na sociedade obrigam, à manutenção de aparências a que Versalhes estava habituada.

Nota-se igualmente uma preocupação de Sofia Coppola com a excelência da fotografia que, não sendo novidade, atinge um nível superior ao de outros filmes - influência talvez da permissão para filmar Versalhes ao invés de um qualquer cenário a fazer de Versalhes. De destacar também a sua conjugação quasi-perfeita com uma (excelente) banda sonora que fornece uma ligação entre esse tempo e os nossos dias e concede ao filme uma aura de visão diferente, numa obra que se quer (ainda que apenas levemente) biográfica, mesmo que não revisionista. E Kirsten Dunst, bem... Kirsten Dunst é Kirsten Dunst. Basta mencionar a cena do leque, que se arrisca a ficar no imaginário do Cinema - assim mesmo, com letra grande - durante muitos e bons anos.

Não é uma obra-prima, mas é um filme muitíssimo bem-vindo numa época de pouca preocupação estética, visual e sobretudo sonora na maior das "grandes estreias" em salas portuguesas.

October 17, 2006

Um segredo bem escondido - III

Continuando um processo de progressiva acalmia do seu estilo, os Last Days Of April entram depois de Angel Youth numa fase bastante colada ao shoegazing, abandonando de vez a forma como as guitarras eram encaradas no seu "emo-estado-inicial".

Ascend to the Stars é, até à data, o álbum perfeito dos Last Days Of April. Aproveitando o que de melhor tinham feito no álbum anterior, conseguem ao quarto álbum (descontando dois EPs pelo meio, o segundo omitido nesta compilação por mero lapso - de seu nome The Wedding, e edição entre o segundo e o terceiro álbum) a sua obra-prima, construída à volta de uma maior fragilidade da voz de Karl Larsson e de arranjos mais calmos e melodiosos.

Aqui encontramos a perfeita conjugação entre juventude e maturidade, esperança e infelicidade, sol e frio - afinal dicotomias presentes até no nome da banda, basta imaginar o que representam os últimos dias de Abril para um sueco...

No entanto, a banda provou com o álbum seguinte estar num beco sem saída em termos de criatividade. De facto, If You Lose It limita-se a repetir a fórmula apresentada em Ascend to the Stars, e, como qualquer repetição e tentativa de imitação, fica aquém do seu original, isto apesar de ter os seus momentos (ou não tivessem já os Last Days Of April provado serem músicos competentes e bons escritores de canções).

A ouvir com atenção faixas como "All Will Break" (Ascend to the Stars), "Angel Youth" (Ascend to the Stars), "Playerin" (Ascend to the Stars), "Piano" (Ascend to the Stars), "It's On Everything" (If You Lose It).

October 10, 2006

O lado positivo da cientologia


Não há aqui nenhum erro, não se deixem enganar pelos pequenos gatos à frente das suas caras na capa do álbum With Love and Squalor. Estes três rapazes são rock, e bom rock...

37 minutos de puro desgaste de energia, desde a primeira (à la Pulp Fiction, "Nobody Moves, Nobody Gets Hurt", outra excelente aposta Radar) até à última música.

Pelo meio dança-se bastante, sua-se muito e salta-se ainda mais, há um refrão de uma música ("Inaction") ao estilo parada-e-resposta que só mesmo ouvindo, e passa-se por músicas imperdíveis: a revoltada "Cash Cow", a excelente (e talvez premonitória) "It's a Hit", o single de apresentação costumeiro-MTV2 ("The Great Escape"), e a sentida mas não menos forte "Lousy Reputation".

We Are Scientists, como que a defender a honra da ciência (numa altura em que Tom Cruise anda perdido devido a outra palavra derivada da mesma raíz). E nós só temos que aplaudir e pedir-lhes que continuem, em nome do progresso (quem sabe científico, mas não só).

October 06, 2006

Bonnie levou o “letting go” à letra


Bonnie ‘Prince’ Billy está a cair. Os tempos das obras primas já lá vão (“Ease down the road” e “I see a darkness”), os dos discos bons também (“Superwolf” e “Master and everyone”) e parece ter chegado a altura dos álbuns porreirinhos. Pois, não dá para acreditar mas o génio da folk americana fez um pãozinho sem sal. Não há uma música em “The letting go” que mereça entrada nas mais belas do compositor. Não há um momento que nos suspenda a respiração por segundos. Não há, resumindo, nada daquilo que havia antes.
Há, isso sim, um conjunto de canções, umas assim-assim, outras satisfatórias, que servem simplesmente para nos dizerem que Bonnie ainda está vivo. Mas isso já nós sabíamos pelo álbum ao vivo que lançou - se era apenas para nos dizer que ainda compunha mais valia esperar mais um bocadinho.

Vá Bonnie, estás perdoado. Vai lá para casa e leva o tempo que quiseres a fazer o próximo. Eu espero o que for preciso, não me brindes é com porreirices destas outra vez.

October 04, 2006

O álbum que perde pontos por envelhecer

É curioso ver que a Blitz integrou o álbum sem título dos Sigur Ros - ou, se preferirem, o álbum dos parêntesis ( ) - na lista dos piores de sempre. Digo curioso porque na data de saída do disco, a classificação que lhe deram no então jornal Blitz foi de 8 em 10.

Modas...

October 03, 2006

Entrar a matar



Este era um álbum que já desesperava que chegasse às minhas mãos. Já há bastante tempo que ouvia - e gostava do que ouvia - temas como "Back Again", "Ivy Parker", o (excelente) single de avanço "Civil Sin", e o inevitável "Suzie", aposta constante da Radar - e que aposta...


A expectativa era alta, e o álbum não desiludiu. Aliás, pulverizou as expectativas. Poucas vezes um álbum de estreia pareceu tão confiante e certo de si, raríssimas vezes com a qualidade deste Civilian, e menos ainda justificando o estatuto de "brit-sensation-culto" que os britânicos tanto gostam de emprestar a tudo o que seja insular e novo.


Este é um daqueles álbuns em que pareceria sempre criminoso deixar alguma faixa sem referência. Civilian abre com a potente "Back Again", segue com a nervosa "On And On" antes de chegar ao duplo momento do álbum, com a fabulosa "karate-pop-punch" (segundo os próprios) "Suzie" a preceder "Six Minutes", para mim a revelação das músicas que não conhecia do álbum, com um verso / linha de sintetizador do mais instantâneo que há. De seguida vem a segura "On My Own", a supracitada "Ivy Parker" (como que a acalmar a energia acumulada até aí), até chegarmos ao abanão que é "Civil Sin" com o seu ritmo "out of control". "Killer" aproveita a força do single para construir um refrão mais que potente (quer a nível musical como semântico - "Killer kill us all"...), enquanto "Friday-Friday" parece ser o esgotar da força das guitarras dos Boy Kill Boy, num registo vocal bastante próximo ao dos seus compatriotas Futureheads. "Showdown" mantém um ritmo forte mas dançável, sendo o registo sonoro das guitarras + sintetizador um pouco mais "popesco" e apelativo ao abanar das ancas, tentando abrandar o ritmo do álbum para o final calmamente perfeito de "Shoot Me Down". Registo igualmente para uma fabulosamente tranquila música escondida, a reforçar a "capacidade eclética" do som dos Boy Kill Boy.


Um álbum a todos os níveis fantástico. Um dos mais fortes candidatos a álbum maior de 2006. E tudo isto em apenas 45 minutos e 17 segundos.

October 01, 2006

Desaparecido em combate

Uma pausa para falar de um disco de que gosto muito e do qual pouco ou nada sei. É de uns tais Anywhen, Suecos, que andam calados desde 2001. Pontos nos is: este The Opiates é uma obra-prima – aquela que Nick Cave tem procurado e que quase conseguiu com No More Shall We Part.
Melhor início não poderá haver com o tom épico de The Siren Songs a dar o mote para o que aí vem. Grande orquestração a suportar uma voz grogue, grave e sonâmbula. Excelente primeiro refrão, grandioso segundo refrão. A segunda canção, Dinah and the Beautiful Blue, embala-nos numa beleza rara. O disco mantém um nível altíssimo até às três últimas faixas, onde entra num outro (e superior) patamar. Toy é um gozo absoluto, mas um gozo contido, clássico e melancólico. Betty Caine suspende-nos em qualquer sítio só nosso. Por fim, All that numbs you é a despedida merecida de um álbum sem mácula.

Já esperei tempo demais por um eventual novo álbum. Voltem depressa que a boa música agradece.