November 13, 2006

Assim vale a pena gritar


(Mais) Uma banda de elevada qualidade proveniente da Suécia, embora estes Shout Out Louds consigam ter já uma visibilidade considerável nos meandros mais atentos da pop alternativa...

A faixa de abertura "The Comeback", sendo um bom single de apresentação para o álbum, é enganadora no seu ambiente: mais sombrio, ainda que não deixe a luminosidade totalmente de lado, e com guitarras mais proeminentes do que se escuta no resto deste Howl Howl Gaff Gaff.

Os Shout Out Louds denotam uma particular heterogeneidade de sons, especialmente incomum em álbuns de estreia (ainda que esta edição internacional do álbum seja, segundo os próprios, "A collection of songs from all our Scandinavian releases. Everything from plastic to vinyl."): desde a mais pesada e supracitada "The Comeback", passando por faixas como "A Track and a Train" ou "Go Sadness", mais próximas do estilo Ascend to the Stars dos seus conterrâneos Last Days Of April, até à construcção pop a fazer lembrar o melhor de Badly Drawn Boy de "Please Please Please" ou à corrida desenfreada de "Hurry Up Let's Go", tudo acaba por colar bem no conjunto e fazer sentido no final.

(Mais) Um bom álbum (e logo de estreia) num ano de 2006* que se tem revelado profícuo em termos de boa música para os ouvidos deste blog.

*Nota: a edição escandinava do disco data de Outubro de 2003 (!), tendo tido direito a edição internacional europeia em Setembro de 2005. Incompreensível como só agora está presente nos escaparates nacionais...

November 08, 2006

E com três menininhas apenas se escreve a palavra POP

A palavra pop é hoje usada para os mais amplos conceitos. São dezenas as fronteiras que rompe e os territórios que abraça dentro da música actual (e não só): rock-pop, indie-pop, pop electrónico, pop sinfónico, teen-pop, punk-pop… e podíamos continuar por mais umas linhas de texto. É, contudo, muito raro encontrar algo que, sem grandes explicações e apenas com música, nos leve à essência da palavra, a Pop de P maiúsculo. E é aqui que entram as Pipettes. Três meninas Inglesas resolveram mostrar-nos o que ela é. Disse mostrar porque é disso mesmo que se trata, uma exposição, a Pop não se explica, ela existe e só pede que alguém a alcance. E como, então, o fizeram? Fizeram-no voltando uns anos atrás, aos vestidos polka-dot, aos óculos angulares e penteados dos 60s. Fizeram-no regressando, portanto, à sua origem, ao seu despertar. Fizeram-no com 15 canções de puro hedonismo. Fizeram-no com letras superficiais, claro está, como qualquer boa Pop que se preze: “dance with me baby boy tonight, dance with me and we’ll be alright” ou “We are the Pipettes and we've got no regrets, if you haven't noticed yet we're the prettiest girls you've ever met”. Fizeram-no lançando a canção Pop do ano, Pull Shapes, sem mais discussão possível. Fizeram-no da forma que se ouve, sem perfeições, nem ambições, nem intenções.

O verdadeiro significado está no álbum “We are the Pipettes”, e não há dicionário, crítico, ou historiador musical que nos consiga fazer ver a Pop como aqui.

November 03, 2006

Os bons velhos tempos de hoje em dia


Não há volta a dar-lhe. Os Camera Obscura são uma das sensações pop do momento, em boa parte graças à genial resposta a uma (excelente) canção-pergunta de Lloyd Cole and The Commotions ("Are You Ready to be Heartbroken?"): não podia ser mais lógico que "Lloyd, I'm Ready to be Heartbroken", genialidade pop de 60 adaptada, ainda que apenas levemente, aos dias de hoje.

"Come Back Margaret" traz-nos uma suplicante Tracyanne Campbell a um ritmo que só apetece abanar-nos, assim mesmo, suavemente de um lado para o outro. "Dory Previn" faz-nos pensar duas vezes a cada inspiração / expiração, não vá a nossa respiração estragar o sublime momento que é essa canção. O tema-título "Let's Get Out Of This Country" oferece-nos a perfeição musical que só a pop nos pode oferecer, enquanto a referida Campbell (que não Isobel...) nos presenteia com pérolas como "Let's get out of this country / I'll admit I'm bored with me / (...) We'll pick up berries and recline / Let's hit the road old friend of mine" - não vos apetece ir imediatamente?

"If Looks Could Kill" não desfazia se tivesse sido composta por Brian Wilson quando andava bem acompanhado, tal como "I Need All the Friends I Can Get", outro momento maior do terceiro de originais destes escoceses com o seu coro infantil a acompanhar o refrão.

Não há como negar. Grande parte do melhor novo-velho pop deste ano está aqui.