September 26, 2007

The Get Up Kids - II

Depois da boa recepção que Something to Write Home About conseguiu ter, o passo seguinte dos The Get Up Kids foi o lançamento de Eudora, uma compilação de covers, b-sides e outras músicas suas que tinham tido edição em alguns primeiros e longínquos EP’s lançados em edição própria. Uma forma eficaz de capitalizar o tal “hype” entretanto criado, ainda que lançado como que a ganhar tempo para preparar o sucessor e a aplacar a expectativa criada em seu redor.

O terceiro álbum de originais surgiria pouco depois com a edição de On a Wire, álbum que apresenta uma banda mais adulta e mais concisa na forma de abordar a escrita e construcção musical, ainda que menos fulgurante. Aqui os The Get Up Kids dão o salto, ainda que este possa ter sido numa direcção que não agrade à maioria dos fãs. As guitarras eléctricas “melódico-explosivas” e o ritmo rapidamente oscilante entre o frenético e o contemplativo ficaram de lado, e na sua vez surgem guitarras mais calmas e propícias a baladas, com ritmos condizentes. Um álbum compacto, ainda que recebido com um certo sentimento de desilusão.

Em 2004 era editado aquele que viria a ser o último álbum de estúdio dos The Get Up Kids, Guilt Show e, este sim, demonstra claramente que a sua linha tinha chegado ao fim. As composições são pouco imaginativas, não existe nenhuma faixa que salte claramente aos ouvidos após uma (ou mesmo várias) audição(ões) e chega-se ao fim da duração da obra com uma sensação latente de descrédito em relação a uma banda que tanto tinha sido capaz de produzir, nomeadamente com o fabuloso Something to Write Home About.

Uma última referência para o álbum final da carreira destes rapazes. Um álbum ao vivo, Live! @ The Granada Theater, gravado durante a sua tour de despedida, regista toda a energia que estes punham nos seus concertos e que acaba por contrariar um pouco a acalmia sonora que a sucessão dos seus ábuns apresentam. Nota final também para o “discurso” de despedida que os The Get Up Kids dedicam aos seus fãs, que tem como título uma frase de uma das suas grandes músicas e que acaba por conseguir resumir em quatro palavras bastante daquilo que os orientou enquanto grupo: “Say goodnight, mean goodbye”.

Atenção a “Campfire Kansas” (On a Wire) e à fantástica versão de “Regret” dos New Order (Eudora).

September 13, 2007

Um tigre é sempre um tigre

E eis que num ano de regressos, surge Ryan Adams. Regresso este que tem a particularidade de parecer que sucede a um longo silêncio quando, na verdade, apenas há pouco mais de ano e meio tivemos direito a três (!) álbuns de Ryan Adams, sendo um deles duplo...

Comecemos pela dualidade presente no título: Easy Tiger, como se algum tigre pudesse ser descrito enquanto “easy”, ou como se para acalmar um animal como o tigre bastassem estas palavras... E no entanto não deixa de ser uma excelente metáfora para a obra que Ryan Adams, qual tigre/génio irreverente e incontrolável, desenvolve ao longo das treze faixas aqui presentes.

Em Easy Tiger – que é um álbum bem mais fácil, ainda que isso não implique que seja melhor ou pior, do que o seu predecessor, 29 –, Ryan Adams agrupa e percorre as várias influências que o conjunto dos seus álbuns apresent(ar)am ao longo de uma já profícua carreira. Desde os tempos mais country dos extintos Whistkeytown (“Pearls On A String”) até aos mais calmos Love is Hell (“I Taught Myself How to Grow Old”), desde o primordial Heartbreaker (“These Girls”) ao recente Jacksonville City Nights (“Tears Of Gold”), e passando pelo ovni Rock’n’Roll (“Halloweenhead”), Ryan Adams tudo junta, tudo mescla – e, como dizia Lavoisier, no final nada se perde. Arrisco mesmo acrescentar: tratando-se do senhor que se trata, só se pode ganhar.

Para além deste novo lançamento, Ryan Adams anunciou que ainda este ano irá ser lançada uma box, contendo dois álbuns originais que nunca chegaram a ser editados (provavelmente devido à clarividência ofuscante dos senhores que comandam as editoras), para além de agrupar diversas raridades e b-sides que tiveram direito a edições exclusivas e limitadas. Ou seja: não parece haver motivo para temer uma quebra na produtividade deste enfant terrible do “alt country”. Ele está aqui para durar.

September 10, 2007

Blur refazem-se

Os Blur recuperaram Graham Coxon, o guitarrista geek que os abandonou para se dedicar à sua carreira a solo, e contam com ele já para as gravações do próximo disco. Finalmente, digo eu. Não que não tenha gostado dos Blur sem o seu guitarrista de sempre, ou que veja Coxon a solo como um erro, nada disso. Quer Think Tank (último Blur), quer Love Travels at Illegal Speeds (último Coxon), são álbuns que se impõem na multidão de pé descalço que é o mercado musical britânico. Mas a verdade é que os Blur com Graham Coxon são outros: mais eléctricos, mais fervorosos, mais adolescentes. Bem vindos de volta.

September 06, 2007

The Get Up Kids - I

Os The Get Up Kids foram uma banda com relativa importância nos E.U.A., principalmente na divulgação do género indie/emo pop na segunda metade da década de 90, mas que passou ao lado do mercado europeu – apenas me recordo de apanhar por uma vez o videoclip de “Action and Action”, single de apresentação do seu segundo álbum, no defunto canal Sol Música.


Four Minute Mile, o álbum de estreia dos The Get Up Kids é, como não podia deixar de ser, o álbum mais cru e duro da sua discografia, onde salta à vista a ausência dos teclados que viriam mais tarde a ajudar a demarcar claramente o lado mais pop da banda. No entanto, esta é uma estreia que expõe desde logo as bases em que a banda se viria a apoiar para definir a sua identidade musical: preocupação com a secção rítmica, nunca descurando o duo de guitarras eléctricas, e letras declarada e abertamente centradas nos relacionamentos pessoais e os seus problemas – poder-se-á inclusivamente dizer que distorcem o habitual boy meets girl para um boy loses girl.



Ao segundo longa-duração, o tal que supostamente define uma banda e a sua confirmação (ou não) como fenómeno a seguir, os The Get Up Kids conseguem o seu momento de inspiração suprema. Something To Write Home About é um álbum a que é difícil ficar indiferente, fazendo jus ao nome escolhido – por oposição à habitual expressão inglesa “nothing to write home about”, quando em referência a algo que não entusiasma.

Após o recrutamento de James Dewees (cuja outra banda, Reggie and the Full Effect, é um caso único de banda-paródia com músicas excepcionalmente boas) para acrescentar a secção de teclados à banda, este segundo álbum é aquele que consegue inscrever o grupo na história da música, tal foi a recepção que obteve e o culto que foi capaz de criar. A um som mais límpido e trabalhado em relação ao seu primeiro trabalho, surgiam agora os teclados que transformam ¾ das músicas do álbum em autênticos hinos pop. O hype estava definitivamente criado.

Merecem audição atenta nesta altura “Coming Clean” (Four Minute Mile), “Valentine” (Something to Write Home About), “Ten Minutes” (Something to Write Home About).

September 04, 2007

Mariza outra vez internacional

Mariza, actualmente a fadista viva mais conhecida fora de fronteiras, está nomeada para um Grammy na categoria de Best Folk Album. O disco que lhe deu o bilhete para Las Vegas, onde será realizada a cerimónia, é Concerto em Lisboa.
Uma boa notícia para a música portuguesa muito embora continue a achar que Mariza, com aquela voz, podia ir bem mais longe do que vai. Em três discos de estúdio, nenhum passa da mediania – Pelo Dia Dentro, último registo fadista de Camané, põe qualquer um deles num bolso.

Motéis há muitos

Pequeno aparte: começa esta quarta-feira, e estende-se até domingo, o 1º Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, o MOTELx. Durante estes dias, o festival toma por casa o São Jorge, cujas bilheteiras são o único ponto de venda dos bilhetes para todas as sessões. Para mais informações e consulta da lista de filmes e respectivos horários: MOTELx.


E um pequeno P.S: estreou na passada quinta-feira o filme Vacancy - Motel. Por estes lados a expectativa é elevada, já que ultimamente a tendência dos filmes de terror parecia ser a do gore, sangue e violência explícita, em vez do susto após boa dose de suspense em antecipação daquilo que se vai passar a seguir. A confirmar se a espera valeu a pena.





E pronto, esta foi uma "Horror Movie Intermission". A música segue dentro de momentos.

September 02, 2007

Fúria de Gales

Em 1991 Gales deu ao mundo uma das bandas mais politizadas da história rock. Esteticamente glam e musicalmente entre o air rock e o punk visceral dos Sex Pistols, os Manic Street Preachers tinham tudo para ser polémicos. Richey James, apesar de não ser vocalista e de a sua perícia na guitarra ser muitas vezes troçada nos bastidores, sobressaía-se como ícone da banda – exímio letrista, instável e desequilibrado, ficou conhecido por se auto-flagelar numa entrevista quando questionavam quão autênticos eram realmente os MSP.
Em 1992 sai o debutante Generation Terrorists e músicas como You Love Us ou Motorcycle Emptyness começam a chegar às rádios. Por trás do inegável tacto em construir grandes canções rock escondem-se letras altamente subversivas. O álbum é um panfleto de retórica esquerdista e um autêntico regicídio na monarquia do Reino Unido – “repeat after me, fuck Queen and country/ repeat after me, death sentence heritage”. Faixa atrás de faixa disparavam contra o establishment, fosse ele o capitalismo, a apatia das massas, as marcas, a publicidade, a religião ou a coroa Britânica. A crítica gostou da ousadia e recebe-o bem. O hype estava criado pressionando os MSP a voltarem atrás na sua promessa de acabarem com a banda a seguir ao primeiro álbum ser lançado.
Seguiu-se Gold Against the Soul, seguimento previsível do primeiro disco, menos inspirado e mais acomodado que o antecessor, mesmo assim mostrando aqui e ali um novo lado dos MSP, mais sinfónico, que seria trabalhado em anos futuros. O que dava que falar, contudo, não era o novo álbum: as fissuras existentes na banda tornaram-se evidentes demais - Richey James estava cada vez mais reduzido ao que sobrava de si próprio, Nicky Wire fazia questão de soltar tiradas inconvenientes dia sim dia não e a banda tocou com apenas três elementos durante grande parte da sua tour (a falta de comparência vinha, claro, da parte de Richey James).
Em 1994 chegou Holy Bible, ainda hoje considerado por muitos como o melhor álbum gravado pelos MSP. Holy Bible carregava todo o desencanto que Generation Terrorists tinha mas extremou-o lírica e musicalmente. Goste-se ou não, foi o álbum bomba dos MSP, as guitarras estavam mais ríspidas que nunca e as letras totalitariamente radicalizadas. É, provavelmente, o disco mais furioso e desacreditado da década de 90. Richey explicou tudo o que sentia por lá: versos como “childhood pictures redeem, clean and so serene/ see myself without ruining lines”, “these sunless afternoons I can’t find myself” ou “he's a boy, you want a girl, so tear off his cock, tie his hair in bunches, fuck him, call him Rita if you want” anunciavam o que estava para vir. A promoção do álbum nos Estados Unidos estava próxima mas antes disso Richey James volta a ser notícia pela última vez. A 1 de Fevereiro de 1995 desaparece, tendo o carro sido encontrado junto a uma ponte perto de Bristol, famosa pelos suicídios que recebe. Pouco tempo depois Richey foi considerado morto, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado. A banda ficou devastada com a notícia e temeu-se o seu fim. Para a grande maioria dos fãs, e possivelmente também para os três restantes membros, os Manics deixariam de ter sentido sem Richey que era visto como a alma e o cérebro do grupo – mesmo tendo em conta a sua limitada capacidade musical, a verdade é que era ele que encabeçava toda a raiva política e social conhecida nos MSP. Sean Moore, o pouco mediático baterista da banda, definiu-o da melhor forma, intitulando-o como o seu ministro da propaganda.
Mas James Dean Bradfield, que de todos os elementos sempre foi o mais músico, assegurou a continuidade do, agora, trio. Poucos meses depois voltaram a reunir-se para compor novos temas. Agarraram em antigas letras de Richey James, juntaram novas de Nicky Wire e James Dean Bradfield encarregou-se de construir canções rock de tom épico. O resultado foi Everything Must Go (não é preciso mencionar a quem é que o título era dirigido), o álbum que pôs os Manic Street Preachers como estrelas internacionais. Além do aplauso da crítica e das vendas astronómicas que teve, Everything Must Go coleccionou prémios pelo mundo fora. Ainda assim, não se livraram de ser acusados de vendidos pelos fãs de primeira hora, ainda revoltados pela perda do seu elemento mais combativo.
E foi a partir deste momento, pós Richey James, que os MSP deram inicio a uma nova fase. É verdade que a veia política está lá e sempre estará, mas estes Manics, os de hoje, estão já muito longe da fúria Marxista de 90. De Everything Must Go (1996) até Send Away The Tigers (2007), os três Galeses envelheceram, amainaram, serenaram e começaram a dar mais importância ao detalhe melódico que à luta política pura e dura. This Is My Truth Tell Me Yours (1998) é paradigmático nesse aspecto: canções calmas, melodiosas e introspectivas, quase caseiras. Mesmo Know Your Enemy (2001), que dos últimos discos é visto como o mais activista, alinha a sua forte posição política com um discurso bem mais leve, ou pelo menos não tão chocante, que as primeiras obras da banda. Ainda houve tempo para prestar uma interessante homenagem aos 80’s dos New Order quando lançaram Lifeblood, em 2004. E agora temos este Send Away The Tigers, acabado de sair, e com um single fresquíssimo de nome Your Love Alone Is Not Enough a dizer-nos que eles estão para durar.

Que durem.


Sean Moore disse que de três em três discos os MSP fazem um álbum de ruptura. Foi assim com Holy Bible, foi assim com Know Your Enemy e, se as contas não me falham, será assim com o próximo.


Que durem até lá, pelo menos.