March 28, 2007

Capas há muitas - II

Indeciso sobre qual a ordem lógica a seguir pelo resto do texto que tinha imaginado, acabei por me decidir pelo critério temporal, escrevendo sobre os grupos / artistas e analisando o seu exemplo de capa escolhido por décadas. Começo, como não podia deixar de ser, pelas mais antigas, com exemplos repartidos entre a década de 60’s e a dos 70’s – e qual deles o melhor...


A primeira capa que me merece referência é a de Pet Sounds, dos Beach Boys. Álbum mítico e marcante da década de 60’s, é este trabalho que afirma definitivamente o grupo como um dos mais geniais do seu tempo – e de sempre. A fotografia da capa demonstra claramente um cuidado do grupo em adequar a capa ao álbum e respectivo título: nela aparecem os cinco Beach Boys em calma comunhão com um grupo de cabras que os rodeia, e que estes entretêm fazendo-lhes festas e dando-lhes comida. Haverá melhor declaração de intenções da “mentalidade Peace & Love” que os Beach Boys tão bem representam? Tudo sem uma única palavra.


Em 1971, cinco anos depois de Pet Sounds, aparece-nos mais uma iconográfica capa – num duplo sentido, já que para além da capa em si, o álbum que a apresenta em muito contribuiu para a afirmação de quem lá aparece enquanto ícone da música soul americana. What’s Going On, soberbo disco de Marvin Gaye, com uma simples fotografia do mesmo em plano central (e por isso mesmo em destaque), de perfil e fitando algo ao longe, algo que não vislumbramos e que por isso mesmo fica para a imaginação de cada um. Sobretudo de cabedal, com gigantescas golas levantas e uma atitude cool inerente ao próprio Marvin Gaye – ou a soul retratada numa foto.

March 27, 2007

Capas há muitas - I

Mais uma vez me desvio do “âmbito” (se é que se pode dizer que existe um âmbito específico aqui no Arte Del Pop) para escrever um post, que será distribuído por capítulos devido a questões logísticas, um pouco em jeito de homenagem a um blog temático verdadeiramente fora-de-série que infelizmente apenas descobri já no fim do seu tempo de vida. O link (também) está ali ao lado – é o Capas de Culto, obviamente.

Do meu ponto de vista pessoal, a capa do disco desempenha um papel relevante na minha opção de comprar ou não um disco quando o tenho na mão – isto porque quando estou a comprar discos acabo invariavelmente por ficar com uma pilha deles, distribuídos entre a lista permanente dos que me faltam, raridades que encontro, até curiosidades que me aparecem à frente sem estar à espera.

Ora, numa época em que a música se descobre maioritariamente pela internet – ou seja, música em formato digital, ao contrário do que fazemos questão de abordar por aqui – a questão da capa e da arte que representa acaba por ficar relegada para um plano secundário, e esse é um aspecto que tenho dificuldade em aceitar, até porque não raras vezes acabei por descobrir excelentes bandas apenas porque a capa de algum dos seus discos me chamou a atenção nos escaparates de uma qualquer loja de música e me decidi a arriscar comprá-lo com o “conhecimento” exclusivo do gosto do grupo... na elaboração da capa.

Seguem-se alguns exemplos de bandas que primam pelo cuidado (e gosto) que apresentam na selecção da capa das suas obras, cada um com uma imagem de alguma delas. Para já fica apenas a que me inspirou a escrever estas linhas, e cujo álbum me merecerá um post “normal” num futuro próximo:


Arcade Fire: Neon Bible.

March 22, 2007

Guess who's back

Damon Albarn faz questão de aparecer frequentemente a dizer que está vivo. Vem com os Blur quando lhe dá para o lado Inglês, com os Gorillaz quando se lembra do lado Americano e agora fez novos amigos para o acompanharem numa experiência quase conceptual - o que vale é que todos o perdoamos por gostarmos tanto dele.

Agora vai de convencer o baixista Paul “The Clash” Simonon, um tal de Tony Allen, baterista de escola jazz, e Simon Tong, ex-membro dos sobrevalorizados Verve. A soma destes homens dá pelo nome de The Good, the Bad and the Queen embora Damon Albarn insista que a banda não tem verdadeiramente um nome e que este é apenas o título do álbum. Ou seja, Damon tem tanto projecto na cabeça que nem tem tempo para lhes arranjar um nome próprio - o que vale é que todos o perdoamos por gostarmos tanto dele.

As canções começam e acabam em Londres, ela está em todo o disco, basta ouvir “a ship across the estuary, Sunday’s lost, in melancholy / a storm of strings far away” para percebermos que a pintam de preto e branco, nebulosa como sempre e como epicentro do apocalipse (quem duvide que atente à capa e a versos como “Friday night in the kingdom of doom, ravens fly across the moon” ou mais explicitamente “the medicine man is here twenty four seven, you can get it fast in the Armageddon” – e não, não estamos a falar da mesma música). A luz lá vai entrando a conta-gotas à medida que nos aproximamos do fim até que na última faixa, precisamente The Good, the Bad and the Queen podemos escutar a bonança: “the sun came out of the clouds and charged up the satellites, we all got our energy back and started walking again”. O disco é bom, não tão bom como o melhor que Albarn já fez - mas o que vale é que todos o perdoamos por gostarmos tanto dele.

March 16, 2007

A grande verdade

Os álbuns de Armando Teixeira, como Balla ou Bulllet, começam sempre bem: ruídos expectantes, batida forte, sintetizadores cortantes, e sem dar-mos por isso estamos a ondular o pescoço e a batucar com o pé. A Grande Mentira, o novo de Balla, não é excepção. Saltei de Mim e O Fim da Luta são quase perfeitas. Mas, a partir daí, o disco acomoda-se (embora a acomodação de Armando Teixeira nunca desça abaixo de um certo nível) e perde quando comparado, por exemplo, ao primeiro registo homónimo.
Aos dois minutos de disco ele lá avisa: “vou abusar do teu corpo” – por vezes consegue-o (nas supracitadas e, mais lá para a frente, em Olá John Di Fool), mas a dita frase aplicar-se-ia melhor se a encaixássemos noutro álbum seu.

March 12, 2007

A importância da (boa) rádio


Menção agora para um dos melhores álbuns que comprei o ano passado apesar das dificuldades que tive em descobri-lo neste rectângulo à beira-mar plantado, tendo inclusivé sido necessária uma ida a Madrid para o conseguir encontrar...

Os The Radio Dept. são (como não podia deixar de ser, apesar de isto começar a ser um bocadinho repetitivo) provenientes da Suécia. Tema e tempo para uma pequena reflexão: não sabendo ao certo o que se anda a passar por terras escandinavas, alguma coisa terá de ser, uma vez que os grupos de qualidade continuam a surgir que nem cogumelos por aquelas bandas.

Pet Grief é o seu segundo longa-duração, e apresenta-nos um som onde o sintetizador predomina tanto ao nível melódico como rítmico, isto apesar do grupo apresentar guitarras e baixo (não muito) eléctricos a par de uma (calma) bateria. As referências mais próximas acabam por ser os Pet Shop Boys ou os My Bloody Valentine, embora me pareça que os Last Days Of April da última fase também não desfaçam numa afinidade a uma temática e a um ambiente claramente próximos do shoegazing.

O álbum abre de uma forma que nos amarra a atenção por completo e nos deixa sedentos pelo que se segue, e que dificilmente poderia ser melhor: "It's Personal", ou os Sigur Rós em versão electrónica sem que com isso percam uma tranquila embora comovedora acutilância, seguida da faixa que dá nome ao álbum, ou a melhor canção dos anos 80 escrita em pleno século XXI - dançante, desprendida embora com a sua quota parte sombria, plena. Seguem-se depois disso mais dez faixas, entre as quais duas pequenas divagações instrumentais, e nas quais podemos encontrar pérolas como "I Wanted You To Feel The Same" (onde mais uma vez nos lembramos de Sigur Rós), ou as finais "Tell" e "Always a Relief". Até as que não destaco pela música em si, sem que isso signifique que desmereçam ou que as descarte de alguma maneira, justificam o destaque pelo título - caso, por exemplo, de "The Worst Taste In Music".

Os seus (curtos) 37 minutos terminam sem que evitem deixar-nos um leve sabor a pouco, mas no bom sentido: uma vontade que o álbum não terminasse ali, que continuasse e nos desse mais momentos de rara beleza como os que até ali contém.

March 03, 2007

Right on


Este vai ser o post mais curto da história do Arte Del Pop, de tão fácil que é falar sobre este álbum. Está tudo brilhantemente resumido numa música presente neste Yours Truly, Angry Mob, o novo dos Kaiser Chiefs: "Everything is average nowadays". Na mouche.