February 28, 2007

O fim-de-semana é o melhor da semana


Ponto prévio: não se espere que A Weekend in the City seja um segundo Silent Alarm, nem que tenha a força, urgência ou excelência do álbum de estreia dos Bloc Party. As estreias são por definição irrepetíveis, e nestas coisas as expectativas costumam ser más conselheiras.

O ano agora é 2007 e os Bloc Party procuram caracterizar ao longo do álbum o ambiente que se vive actualmente em Londres, com a forte presença de imigrantes convivendo lado a lado com uma certa tendência isolacionista tipicamente britânica, a par das grandes mudanças que testemunharam no curto espaço de 2 anos em consequência dos atentados de 7 de Julho de 2005, ou ainda criticando a cultura de desprendimento cool que a geração mais jovem parece seguir sem pensar nas consequências ou no futuro. A propósito desta descrição vem-me à cabeça um magnífico post de um blog que não lhe fica atrás e cuja leitura aconselho vivamente.

Não é por acaso que A Weekend in the City começa com "Song for Clay (Disappear Here)", uma clara referência ao romance "Less Than Zero" de Bret Easton Ellis, no qual se relata o regresso de Clay à sua cidade-natal de L.A., os devaneios e aventuras em que aí participa numa espiral descendente de decadência, sexo e drogas até que decide, já no final do livro, partir (ficando no ar a hipótese dessa partida ser definitiva) desiludido com a cidade e com as pessoas que a habitam, sejam seus amigos ou não. Os Bloc Party procuram aqui traçar o paralelismo dessa L.A. suja e amoral para a Londres na qual habitam e da qual conhecem o lado mais escuro.

Os dois (tumultuosos) anos que separaram os seus álbuns foram aproveitados para o crescimento, amadurecimento e experimentação de novas orquestrações para o seu estilo, sendo isso mesmo notório neste A Weekend in the City. Ouvem-se violinos, batidas mais electrónicas e sintéticas (para além da visceral bateria), coros, sintetizadores. Nota-se essencialmente uma maior rede de complexidade à volta da construção de cada faixa, faltando depois, no entanto, a capacidade de capitalizar totalmente essa maior preocupação com a arquitectura sonora. E, não significando este facto a passagem do álbum para a categoria de álbum menor, não deixa de ser pena.

Esclareçamos: há aqui excelentes músicas e que contêm tudo o que os Bloc Party são capazes de fazer melhor: a já referida faixa inaugural, "Hunting for Witches" que não desfaria se fizesse parte do anterior Silent Alarm, a crítica à subcultura feita religião de "Uniform", ou as mais 'fáceis' "I Still Remember" e "Sunday". Estas músicas são no entanto alternadas com momentos menos conseguidos, como "Where is Home?" ou "SRXT", o que quebra a unidade do álbum e provoca a sensação de que com um maior cuidado na escolha do alinhamento do álbum poderia estar aqui um fora-de-série.

Ainda assim, este álbum não desmerece os Bloc Party e não deixa de ser um dos bons álbuns deste ano até ao momento.

2 comments:

Anonymous said...

Creio que este álbum poderia ter resultado muito melhor...

Creio bem que o estrondoso marketing e a publicidade elevaram a fasquia demasiado alto e abafam alguns equívocos do álbum.

Mas é só uma opinião!

Excelente blog este.

Abraço e bom trabalho!

DB


http://stereogps.blogspot.com/

Unknown said...

Concordo com a posição acima. Nada como uma excelente acção de marketing para abafar alguns ruídos do álbum.

Não considero 'A Weekend in the City' um álbum mau, mas fica a milhas de 'Silent Alarm'. Alguns media britânicos, fartos de tanto mediatismo, já começam mesmo a criticar o grupo, especialmente o vocalista, pelas letras do álbum. Do género: "se estás farto, a porta da rua é a serventia da casa", LOL.

Hugzz