
Em Marie Antoinette, Sofia Coppola opta mais uma vez por deixar a história desenrolar-se por si, caracterizando as personagens mais como espectadores e peões desta do que jogadores capazes de a definir e dirigir. Aqui, o jovem casal constituído por Marie Antoinette e Louis Auguste parece nunca conseguir controlar a sua vida ou ter uma palavra sobre a história que (sabemos nós) lhes está reservada, sendo a sua vivência sucessivamente sujeita às vontades das famílias reais, às formalidades a que os seus lugares na sociedade obrigam, à manutenção de aparências a que Versalhes estava habituada.
Nota-se igualmente uma preocupação de Sofia Coppola com a excelência da fotografia que, não sendo novidade, atinge um nível superior ao de outros filmes - influência talvez da permissão para filmar Versalhes ao invés de um qualquer cenário a fazer de Versalhes. De destacar também a sua conjugação quasi-perfeita com uma (excelente) banda sonora que fornece uma ligação entre esse tempo e os nossos dias e concede ao filme uma aura de visão diferente, numa obra que se quer (ainda que apenas levemente) biográfica, mesmo que não revisionista. E Kirsten Dunst, bem... Kirsten Dunst é Kirsten Dunst. Basta mencionar a cena do leque, que se arrisca a ficar no imaginário do Cinema - assim mesmo, com letra grande - durante muitos e bons anos.
Não é uma obra-prima, mas é um filme muitíssimo bem-vindo numa época de pouca preocupação estética, visual e sobretudo sonora na maior das "grandes estreias" em salas portuguesas.